Na última semana, comitiva de Aracaju visitou a Colômbia.
25.04.14 19:10
Colômbia: um país que há cerca de 20 anos era destruído pelo narcotráfico. As estatísticas apontavam para 385 assassinatos por cem mil pessoas, uma das maiores taxas do mundo. Indo contra todas as expectativas de futuro, o governo colombiano investiu na mobilidade urbana e mudou a realidade das duas maiores cidades do país, Bogotá, e Medellín. Empregando capital para sanar as necessidades básicas da população e elevando a autoestima dos moradores das favelas, o poder público da Colômbia modernizou os sistemas de trânsito e transporte público dos centros urbanos. Um exemplo que os gestores de Aracaju querem seguir na capital sergipana.
Foi para conhecer o novo dia-a-dia e as modernas intervenções na mobilidade urbana que uma comitiva formada pelo prefeito da capital sergipana, João Alves Filho; o vice-prefeito, José Carlos Machado; o superintendente de transportes e trânsito (SMTT), Nelson Felipe da Silva Filho; o diretor geral da Guarda Municipal de Aracaju (GMA), coronel Enílson Aragão; e o secretário adjunto da Secretaria Municipal de Defesa Social e da Cidadania, Arivaldo Barreto; esteve na Colômbia, entre os dias 13 e 17 de abril.
As duas cidades mais populosas da Colômbia possuem um sistema diferenciado de transporte urbano de BRT (Bus Rapid Transit), o Transmilenio. O superintendente da SMTT, Nelson Felipe, explicou como o sistema colombiano funciona. "O Transmilenio nos dá um dimensão do que pode ser feito em Aracaju. Praticamente toda a rede do sistema articulado funciona nos corredores exclusivos, onde só os ônibus circulam. Com isso, a cidade inteira está interligada. O que mais surpreendeu, é que, na verdade, lá, as linhas que não são as ‘tronco', as alimentadoras, não são pagas. Paga-se apenas as ‘linhas-tronco'. Aqui no Brasil, temos o contrário, paga-se as alimentadoras e não paga o ‘tronco'. O preço da passagem também é diferenciado. No horário de pico ela é mais cara. No horário de entre-pico ela é mais barata. Isso também dá uma valorização, pois compensa os custos do transporte. E funciona! Funciona bem!", contou.
Sobre Medellín, o superintendente Nelson Felipe conta com entusiasmo a transformação social criada pela urbanização das favelas. "Medellín para mim é o grande modelo de cidade. É extremamente organizada e arborizada. Também tem o Transmilenio, como em Bogotá. As favelas são grandes, comparáveis com a favela da Rocinha e da Maré, no Rio de Janeiro. Mas existe uma dignidade transferida do governo para o povo. O transporte urbano existe, mas só vai até um certo ponto, por conta das vielas e becos. Com essa demanda foram implantadas escadas rolantes, desde a base até o topo do morro. São oito composições de escadas rolantes. Em outra favela, mais espaçada, foram colocados teleféricos que transportam até oito pessoas. É pago, mas são valores módicos e dá para ir de um ponto a outro da favela com segurança e conforto", expressou.
A oportunidade de viajar para a Colômbia proporcionou ao grupo de gestores perceber o quanto a cultura e a educação mudou a vida de muitas comunidades. A presença de bibliotecas com um padrão diferente do que é conhecido no Brasil, permitiu o desenvolvimento de atividades diferenciadas. "No Brasil, pensamos que biblioteca é um lugar onde se vai apenas para estudar, pesquisar. Esse conceito foi modificado em Bogotá. Lá, biblioteca é um lugar onde a pessoa vai pesquisar e estudar sim, mas vai brincar, jogar no computador, assistir a filmes, pegar emprestado livros e DVDs. Algumas servem como creches também. Os adultos vão para fazer cursos profissionalizantes, como culinária, corte e costura. A biblioteca virou um grande centro de convivência nas comunidades", analisou.
Seguindo essa linha de administração, a Prefeitura de Aracaju realizou obras de revitalização de praças da cidade e criou novos espaços para leitura, a exemplo da Praça Tobias Barreto. O Brasil possui a sexta maior economia do mundo, o que, em comparação à Colômbia, é uma condição mais propícia ao desenvolvimento de políticas de incentivo. Criando o hábito da leitura, seja um livro, uma revista, um jornal, ou até mesmo leitura via internet e tecnologias móveis, há a formação de uma rede de conhecimento e debate, levando o povo ao discernimento e o requerimento das suas próprias necessidades básicas.
Assim sendo, aplicando as mesmas estratégias usadas em Bogotá e Medellín, de acordo com o superintendente, a vida nas comunidades mais pobres de Aracaju será melhor. "Um bairro como o Pantanal, como o Santa Maria, pode ser melhorado com ações simples, como foi feito em Medellín. É saneamento básico, calçamento das ruas, a colocação de boas escolas e até mesmo, junto a elas, bibliotecas para que as pessoas usem, no sentido de atendimento, não apenas para ser um lugar onde tenha um monte de livros que ninguém use. Quando se começa a dar cultura e conhecimento ao povo, a realidade vai mudando. Há mais respeito com as coisas públicas. O transporte faz parte, mas atenção às necessidade básicas também. O poder andar de bicicleta, sair de casa e não ter lama na porta. O que aconteceu em Medellín foi que as pessoas continuaram nas suas casas, mas com dignidade de poder se deslocar para o trabalho, para escola, para lazer, para qualquer lugar e é o que começamos a fazer em Aracaju", expôs.
Resgatando a autoestima dos habitantes colombianos, eles entenderam os investimentos feitos pelo governo e mantêm o patrimônio público, com a vontade de crescer ainda mais. Nessa mesma linha, a Prefeitura de Aracaju, por meio da SMTT e toda a sua ordem de secretarias, empresas municipais e fundações trabalha para otimizar a mobilidade urbana, na arborização da cidade, na valorização dos espaços públicos, praças e vias urbanas, melhorando sobremaneira a qualidade de vida do povo de Aracaju.