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Coordenado pela Prefeitura, Programa Vida no Trânsito reduz número de óbitos em Aracaju em quase 60%




25.07.19 13:30

Fotos: André Moreira

Articulação intersetorial em rede, qualificação de dados, ações integradas e monitoramento e avaliação de ações. Esses critérios compõem a metodologia adotada pelo Programa Vida no Trânsito (PVT) para reduzir o número de óbitos e lesões causadas por acidentes. O Programa é coordenado pela Secretaria da Saúde da Prefeitura de Aracaju (SMS) e conta com a participação de outros órgãos. 



Lidiane Gonçalves integra a área técnica de Prevenção de Violências e Acidentes da SMS e é a responsável pelo Programa. De acordo com Lidiane, o Vida no Trânsito representa um modelo de gestão de segurança no trânsito, criado como uma das principais respostas à Década de Segurança no Trânsito, instituída em 2011, cuja meta era a de reduzir em até 50% os acidentes fatais e com lesões. 



“É uma estratégia de gestão intersetorial para prevenir lesões e mortes, a partir de um plano integrado de ações, orientado por evidências científicas e pelo perfil epidemiológico local”, define Lidiane Gonçalves. O Vida no Trânsito surgiu como um projeto, por meio de uma inciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) para propor estratégias para a redução considerável de lesões e mortes.



No Brasil, o então projeto ganhou o nome de Vida no Trânsito e foi implantado, como um projeto-piloto, em cinco capitais: Belo Horizonte, Campo Grande, Teresina, Curitiba e Palmas. “Esses locais foram escolhidos pela alta incidência de acidentes desse tipo e por serem mais estruturados à época. Como houve resultados, ele foi expandido para as demais capitais e municípios”, revela Lidiane.



Hoje, o Vida no Trânsito já está implantado em 51 municípios brasileiros. “Em Aracaju, ele começou a ser implementado em 2013, com a visita de representantes do Ministério da Saúde. O processo foi concluído em 2014, quando houve a instituição do Comitê Gestor Intersetorial do Programa”, lembra a coordenadora. 



Esse comitê é composto por diversos órgãos, entre eles, a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT); o Departamento Estadual de Trânsito (Detran); A Secretaria Estadual de Saúde; o Conselho Municipal de Saúde; a Universidade Federal de Sergipe; a Empresa Municipal de Obras e Urbanização (Emurb); a Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb); a Guarda Municipal e a Secretaria de Estado da Segurança Pública, representada pelo Centro de Estatística. 



“Cada um tem um papal específico e trabalha o tema de alguma forma. É preciso pensar de forma integrada e executar ações também de forma integrada, porque cada órgão tem como contribuir”, ressalta Lidiane. “As ações precisam ser estratégicas, alinhadas e integradas, inclusive com participação da população nesse processo”, completa a coordenadora do Programa.



À Emurb, por exemplo, cabe a realização de um planejamento de ações voltadas para a infraestrutura, como a operação Tapa-buracos e de recapeamento asfáltico, além da instalação de equipamentos de fiscalização e redutores de velocidade, como lombadas eletrônicas. 


Já à UFS, coube a inserção da disciplina Prevenção de Acidentes de Trânsito e Suporte básico de Vidas na grade curricular. Optativa, a disciplina é ofertada a cerca de 60 alunos por semestre, a maioria deles do curso de Enfermagem. O objetivo é formar tanto cidadãos quanto profissionais mais críticos, conscientes e responsáveis com relação ao trânsito. 



Lidiane acredita que os avanços do PVT vêm exatamente dessa integração entre os órgãos. E entre esses avanços, a redução de acidentes com óbito é a principal: o número de mortes caiu 58,1% em Aracaju entre 2010 e 2017. O índice de redução foi o maior em todo o país. Já entre 2017 e 2018, os registros caíram de 54 para 44 acidentes fatais no trânsito, representando uma queda de 18,5%. 



Além disso, a integração permite o compartilhamento de dados e a necessária unificação deles, o que permite a implementação de políticas públicas mais eficazes. “A ideia é que, até para fazer um planejamento, os gestores tenham embasamento a partir dessa informação. E Aracaju está avançando bastante nisso, o que é muito importante, porque só conhecendo a realidade é possível fazer um planejamento para reduzir o impacto desses acidentes na sociedade”, opina Lidiane. 



Essas informações possibilitam, por exemplo, entender o perfil dos acidentes e, assim, prevenir suas causas. Nesse sentido, Lidiane explica que a maioria dos acidentes com óbito ocorre em razão de excesso de velocidade acompanhado de ingestão de bebida alcoólica e em avenidas de tráfego intenso, como Beira Mar, Tancredo Neves e José Carlos Silva (antiga Heráclito Rollemberg).



“A maioria das vítimas é do sexo masculino, em idade produtiva, e o grupo de risco é o de motociclistas, seguido de pedestres e ciclistas”, revela Lidiane. Ela ressalta que essa predominância de óbitos em idade produtiva gera um impacto no sistema de saúde. “São mortes prematuras ou incapacidade em idade produtiva, o que sobrecarrega o sistema, já que boa parte dos leitos é ocupada por vítimas desses acidentes, gerando impacto direto no SUS”, reforça. 



Para Lidiane, apesar de todos os esforços visando à redução do número de mortes no trânsito e de Aracaju ter tido bons resultados nesse sentido, o cenário ainda é preocupante em todo o país. Isso porque, segundo ela, os comportamentos que levam aos acidentes se repetem. “Muitos acidentes são fruto de imprudências no trânsito. E a gente trabalha para reduzir isso ao máximo, mas depende de uma série de fatores, como a educação para o trânsito”, pondera.



A atuação da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), parceira da Secretaria Municipal da Saúde no Vida no Trânsito, consiste exatamente na realização de atividades voltadas para essa conscientização. Segundo Thiago Alcântara, diretor de Trânsito da SMTT, só esse ano foram realizadas 146 ações educativas nas avenidas com maior registro de acidentes. 



“As ações estão inseridas no Planejamento Estratégico da Prefeitura e englobam blitze educativas, que abordam condutores, pedestres, motociclistas e ciclistas”, afirma Thiago Alcântara. Aliada a esse trabalho de educação, há, também, o de fiscalização, através de equipamentos eletrônicos e redutores de velocidade. 



“Uma das principais causas de acidentes com mortes é a velocidade em excesso, além de avanço de sinal e o uso de celular, então, a fiscalização também contribui para essa redução”, ressalta o diretor. Assim como Lidiane, Thiago entende que a questão principal é a conscientização. “As pessoas acham que aquela roubadinha não é nada. Mas são as infrações de trânsito que geram as mortes”, diz. 



As reuniões do Programa Vida no Trânsito ocorrem mensalmente, geralmente no fim do mês, e servem para que a equipe tenha um panorama dos resultados das ações e da necessidade de intensificá-las. Mas Lidiane reitera: a preservação da vida não deve se restringir ao Programa ou mesmo ao poder público. “Cabe a todos nós ser multiplicador da ideia do Vida no Trânsito”. 

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