Andressa acredita que as mulheres vêm quebrando barreiras e vencendo o preconceito
08.03.12 20:27
Há 12 anos, seis mulheres tiveram a iniciativa de quebrar muitas barreiras ao integrarem o quadro da primeira turma de agentes de trânsito da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) de Aracaju. Elas eram a minoria em uma turma de 40 pessoas, mas não se intimidaram diante das primeiras manifestações de preconceito e das tentativas de desqualificá-las enquanto profissionais.
“Nós sofremos bastante preconceito no início, pois até então não havia mulheres trabalhando no trânsito de Aracaju. E, apesar de ter que ouvir um ou outro comentário machista dos colegas de trabalho, as manifestações mais pesadas vinham das ruas, dos próprios motoristas”, lembra a supervisora de trânsito da SMTT, Leila Batista, integrante da primeira turma de agentes de trânsito formada pela PMA.
Durante seis horas por dia, Leila atua orientando os motoristas e ajuda a resolver os problemas decorrentes do trânsito urbano, como acidentes, colisões e intervenções no tráfego. Em meio à turbulência diária que enfrenta no trânsito, ela garante que, apesar dos preconceitos ainda existentes na sociedade, são raras as manifestações de discriminação em relação à sua profissão.
Respeito
No entanto, como a maioria das trabalhadoras, ela precisou enfrentar uma série de situações de intolerância para finalmente conquistar respeito. “Há alguns anos, eu estava trabalhando com um pedaço de guardanapo na mão, porque fazia muito calor e eu o utilizava para secar o rosto. Um motorista parou o carro e cismou que eu o teria autuado, mas isso não aconteceu. Então ele veio em minha direção e me deu um murro no rosto. Meu olho inchou na hora, ficou roxo. Ele era policial militar, mas eu nem sabia e acabamos indo para a delegacia”, lembra a agente de trânsito.
O ferimento no olho chamava tanta atenção que Leila passou alguns dias trabalhando internamente, no setor administrativo, até que o inchaço diminuísse. Foi durante esses dias que o seu agressor precisava de um documento emitido pela SMTT. Quem o entregou foi a própria Leila.
“Na hora que ele olhou para o meu rosto e viu o inchaço, eu percebi a vergonha no rosto dele. Ele não me olhava nos olhos. Agi normalmente e mostrei a ele que ali poderia ser a mãe dele, a irmã ou a esposa, para que ele se sentisse constrangido enquanto agressor”, explica Leila, enfatizando que só uma mudança de cultura é capaz de promover a igualdade entre homens e mulheres.
Resistência
Para a agente de trânsito Andressa Oliveira do Prado, se as mulheres hoje são mais respeitadas nos postos de comando de diversos órgãos públicos e privados, é porque elas mesmas se dispuseram a ocupar os espaços e a vencer os preconceitos.
“No início, nós sofríamos com a discriminação porque éramos as únicas profissionais do órgão. Mas como os motoristas enxergam mais mulheres nas ruas, acredito que eles começam a se acostumar e a encarar com naturalidade a nossa presença. Já ouvi comentários como ‘só poderia ser uma mulher’, quando eles estão insatisfeitos com algum procedimento. Mas é muito raro, não é como era antes”, diz Andressa.